quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

114 dias para o MIUT

O equipamento.

Uma dos elementos que me tem preocupado com o desafio do MIUT é toda a logística e equipamento que vou necessitar. Eu não sou como a maioria dos corredores que vão participar nesta prova e não tenho qualquer experiência de ultra distância, como mencionei no primeiro post só fiz uma prova de 50km em terreno praticamente plano e em condições completamente diferentes daquelas que irei encontrar na Madeira. Para resumir este ponto não tenho ideia nenhuma sobre o que levar ou usar. O que sei é que encontrar equipamento da especialidade, aqui em Omã, é bastante difícil.

As minhas sapatilhas de trail -  sim eu sou antiquado e escrevo sapatilhas em vez de ténis – são umas Lafuma V300 que comprei em saldo num Outlet só porque diziam trail e eu achei adequado para a prática da actividade. Não faço ideia se são boas ou más, para terreno seco ou molhado. Sei que não gosto de correr com elas e que sempre que as uso fico com os pés massacrados. 


Depois todo o material que eu tenho foi pensado para o clima frio, húmido e lamacento da região de Paris onde vivia - Velizy-Villacoublay, uma pequena vila da periferia de Paris muito próxima de Versailles e com condições óptimas para a prática do trail. A 200 metros do apartamento onde vivia tinha uma floresta predominantemente constituída de carvalho – presumo que seja o tal do carvalho francês tão utilizado na produção de bom vinho , mas nunca conversei com os carvalhos embora tenha utilizado a parte de trás para conduzir outras actividades! O terreno de inverno era mole, de terra preta, escorregadio, e no verão, ou quando estava seco era duro que nem pedra. Acabei por comprar umas Salomon Speedcross 3 para aquele terreno e na verdade é que nas poças e na lama eu parecia um autêntico tractor – gordo, pesado e movendo-me devagar! 

Outro factor é que eu, por falta de conhecimento, comprava as sapatilhas para o meu número. Quem estiver a ler isto que não esteja habituado a estas coisa pensará: “ É lógico!” mas o que eu depressa aprendi é que os pés incham quando estamos muitas horas de pé a correr e que um pouco de espaço não faz mal nenhum e que até é recomendado! Tenho neste momento um monte de sapatilhas que estão boas para correr mas apenas curtos períodos ou para utilizar no ginásio.

Para resolver alguns destes problemas acabei por ter de ir ao Dubai num destes fins de semana para comprar umas sapatilhas adequadas. Depois de ler alguns blogues, pesquisar a internet e ver o que levam nos pés as pessoas que correm o MIUT – um trabalho de pesquisa que me levou a ver muitas horas de videos e fotos de participantes das antigas edições do MIUT – acabei por escolher as Salomon S-Lab Wings desta vez para o comprimento do meu pé!





A mochila foi fácil, porque desta vez já tinha alguma experiência. Como na preparação dos 50km do EcoTrail de Paris acabei por fazer 2 vezes a distância da maratona acabei por levar às costas a comida e bebida que necessitava, uma vez que fiz estas distâncias sozinho. Descobri que as mochilas que tinha, uma da Asics e outra da marca Kalenji da Decathlon são pequenas e confortáveis para as pequenas distâncias mas com pouco volume e difícil de aceder aos poucos bolsos na parte traseira. A minha escolha foi outra vez para a marca Salomon e o modelo Skin Pro 10+3 Set que no primeiro teste de 2 horas se “portou” muito bem. As principais diferenças em relação às outras mochilas que eu tenho é o conforto e o ajuste ao corpo que se reflete em menos balanço e menos roçaduras, os bolsos bastante acessíveis, e a facilidade de aceder a tudo o que é preciso tendo espaço para tudo.






A pergunta que faço é: bastões ou não? Acabei por comprar uns bastões na minha ida ao Dubai, um pouco pesados e da marca da Decathlon, que por agora devem servir de treino. Na realidade não sei se hei-de levar bastões ou não!?? São 115km e os bastões podem ajudar a poupar as pernas mas também são um extra peso e eu não tenho qualquer experiência com bastões por isso vou ter de experimentar e descobrir por mim próprio se é útil ou não o uso dos bastões.





Meias, casacos, camisolas e outras bugigangas...
As meias sei bem o que levar sem margem para dúvida: Injiji – as famosas meias com dedos. Comecei a utilizá-las quando comprei o meu 3º par de FiveFingers e descobri as vantagens de ter pés secos e livres de bolhas. O casaco impermeável é da Lafuma com Gore-Tex e um corta vento também da Lafuma. Calções e calças de compressão uma vez que faz parte do material recomendado. Claro que vou levar o Garmin Fénix 3 e a lâmpada frontal da Petzl RXP que espero seja uma grande ajuda durante os períodos nocturnos e com a tecnologia reactiva permita ver bem o caminho sem comprometer nas subidas e que a duração cubra as necessidades. A propósito da tecnologia reactiva, no frio gélido de Paris descobri que o vapor saído da nossa boca faz a luz mudar de longo/médio alcance para curto uma vez que o sensor “vê” demasiada luz devido ao vapor e muda para uma intensidade mais baixa. Espero que na Madeira isto não aconteça. Claro que a temperatura mais baixa que encontro aqui em Omã são 17ºC e não são de todo suficientes para condensar o vapor da nossa respiração por isso não tenho esse problema durante os treinos!




Ontem fiz um treino de progressão onde me senti bastante bem mesmo nas subidas, que apesar serem de alcatrão (por agora) serve bem uma vez que o meu objectivo durante o mês de Janeiro é ganhar o máximo de quilómetros possível para ter uma boa base e a partir daí atacar os montes de Omã e fazer treino mais específico para o terreno que vou encontrar no MIUT. 
Outro dos aspectos que me preocupa é a falta de motivação, ou melhor, acreditar que não vou ser capaz... Preciso de motivação mas a treinar sozinho e com a ideia fixa de que estou muito longe da forma desejada.... devia estar mais leve é que os meus 81kg não me deixam nada confiante para o martelar de pernas e os joelhos que vão ser aqueles 115km ou 24h que é o tempo a que me proponho.

Hoje há mais treino, desta feita com um grupo de simpáticos e bem dispostos corredores que fazem parte do grupo dos Muscat Road Runners. Eu não faço parte do grupo mas todas as quintas-feiras eles organizam uma corrida de 4km ou 6km a que chamam de PDO Fun Loop onde se corre/treina num espirito de confraternização que me ajuda a manter-me motivado. Na verdade acabo por ir lá testar-me com estas autênticas máquinas do deserto, bem preparados e que vão divertir-se e não medir forças comigo. Acabo por falar um pouco sobre o desporto e saber alguma novidades e basicamente levar 2 a 3 minutos de avanço de tipos de 60 anos ou de putos novos que correm para .... Num destes dias resolvi medir forças com o Sunil, um pequeno indiano que eu assumi fácil de deixar para trás... e como me enganei! Comecei a dar tudo o que tinha na volta dos 4km e nos 2 primeiros quilómetros o tipo não descolava e quando descolou lá foi ele! Deu-me mais de um minuto de avanço depois da barreira dos 2 km.  Assim sendo todas as quintas-feiras vou lá correr o melhor que posso na esperança de conseguir chegar ao mesmo nível que estes tipos e também procurar puxar um bocado mais uma vez que tenho companhia. Hoje é quinta-feira!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

MIUT 115 a 115 dias

MIUT 115

Bem estamos a 115 dias do começo do MIUT na sua 8º edição. São 115km que começam no dia 23 de Abril à meia-noite em Porto Moniz na Madeira e que num tempo máximo de 32h os corredores deverão chegar a Machico – pelo menos é isso que eu espero.

Na verdade não estou nada preparado para esta prova, raios, nem para fazer uma maratona em menos de 4 horas em terreno plano, mas porque raio me propus a percorrer 115km num dia com vários quilómetros verticais!!!???  Talvez seja a resposta mais difícil de encontrar, mas basicamente porque posso – ou melhor deixaram-me inscrever - e raios adoro um desafio. Não vou fazer uma ultra maratona só porque sim, mas porque faz parte de um plano maior, um plano que inclui MDS e UTMB entre outras.

Tudo começou à dois anos e meio quando saí do Dubai e comecei a trabalhar em França , na zona de Paris e depois de mais de cinco anos de sedentarismo resolvi reduzir o peso dos 95 para um peso que me deixasse apertar os sapatos sem ficar sem fôlego. Pois é! Estava assim de gordo, no limite da obesidade pela tabela o BMI (Body Mass Index) ou em bom português o IMC (índice de massa corporal).

Comecei a correr, aos poucos, depois comecei a correr mais longe e mais rápido, sempre sozinho até me inscrever para a minha primeira prova de 10km que consegui fazer em menos de 1h! Foi uma vitória, para quem não corria à tanto tempo, raios não corria assim desde que no ano de 98/99 treinava com o meu amigo Orlando Lino. Raios agora que penso nisso foram mais de 13 anos sem correr. Bem quando me mudei para Espanha em 2008 cheguei a correr em Barcelona mas sem grande consistência…

Já voltarei ao passado mas agora fica a razão que me trouxe de novo ao blogue. Vou transformar este blog no diário da preparação do MIUT. Já estou inscrito e já tenho o bilhete para a Madeira. Levo o meu cunhado que sendo de lá e conhecendo bem o terreno me vai dar uma preciosa ajuda, pelo menos assim espero, porque ele agora está em Portugal e eu estou a 6600km de distância no Sultanato de Omã!

Hoje vou treinar uma hora porque ainda estou a recuperar da cirurgia a que fui submetido à pouco mais de um mês. Claro que foi logo a seguir à minha inscrição no MIUT que, numa ida ao médico, um problema de saúde ditou um internamento e uma cirurgia que me ia impossibilitar de treinar durante 3 semanas e condicionar o treino durante os próximos 3 meses. Ainda assim vou fazendo o que posso. Tenho a sorte de já não estar com 95kg, de ter tempo para treinar pelo menos uma vez por dia se assim o desejar, e ao contrário dos países vizinhos Omã tem bastantes montanhas, algumas das quais atingindo as inclinações que espero encontrar no MIUT - até descobri uns magnificos degraus escavados numa montanha que vão da cota 600 até à cota 2000!


Bem já me alonguei bastante nesta introdução mas vou deixar mais pormenores da minha viagem de corredor de sofá ao MIUT 115 em 115 dias.